Se só antropofagia nos une - conforme afirmou o escritor Oswald de Andrade, no Manifesto Antropófago, em 1928 - eis que é também a antropofagia que reúne a contemporaneidade enquanto ‘sotaque’ da arte brasileira. É a conclusão a que se chega ao assistir a palestra “Paradoxos na arte brasileira contemporânea”, ministrada pelo crítico de arte pernambucano, Moacir dos Anjos, que esteve em Cuiabá, na última sexta (31). A palestra fez parte da solenidade de abertura da exposição “Exílios” da artista carioca, Paula Trope, evento realizado pela Funarte, em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso (SEC) e Sesi, que fica em exposição até o próximo dia 30, no Pavilhão das Artes, localizado no segundo andar do Palácio da Instrução.
Como esta foi a primeira vez que esteve em Mato Grosso Moacir não arriscou fazer uma análise da arte produzida por aqui. Contudo, afirmou que voltará em 2013 para ficar alguns dias e, assim, ter a oportunidade de conhecer parte do que Mato Grosso produz na área contemporânea.
A vinda do crítico foi mais uma ferramenta estratégica utilizada pela gerência de Intercâmbio da SEC, que abriga o Pavilhão das Artes, pela coordenação de Magna Domingos. A troca de experiência com artistas e pessoas do meio, com uma bagagem cultural importante, será cada vez mais acentuada, pela SEC, conforme garante o secretário estadual de Cultura, João Laino. O caminho vem sendo trilhado nesse sentido há algum tempo e a meta é inserir o estado de forma cada vez mais incisiva no contexto da arte contemporânea brasileira. Dessa forma o governo estadual contribui para abrir mais o leque de conhecimento criativo entre artistas locais e nacionais.
“Queremos que Mato Grosso seja reconhecido muito além da fama de grande produtor de grãos. E sim, também com a disseminação da arte contemporânea pujante que aqui se encontra. Queremos que a arte mato-grossense seja reconhecida pela sua visualidade e alta criatividade”, destaca Magna sobre o trabalho do Intercâmbio. Ela explica que o Estado tenta construir um diálogo com a visualidade brasileira. Daí, a importância de se trazer grandes nomes no meio artístico como Moacir dos Anjos.
Paula Trope disse que o caminho é esse mesmo e que é muito importante essa ponte que a SEC começa a promover através do edital “Redes” da Funarte. O referido edital se propõe a estabelecer o intercâmbio de artistas pelo Brasil e isso dissemina muito mais a informação de cada um.
Para Moacir, essa inserção deve ocorrer e bem rápido já que as fronteiras hoje existentes entre artistas de grandes centros e de outros eixos, logo vão deixar de existir no sentido que se vive hoje, com o advento da internet, que não tem limites transformando as fronteiras físicas em ‘artificiais’. “O pouco que sei de Mato Grosso, é que, aqui, a arte é mais regionalizada. Mas essa fronteira tende a se misturar com outras e haverá espaço para a concepção de uma nova arte, sem, contudo, perder esse ‘sotaque’”, analisa.
Segundo ele, é interessante o modo como cada um articula a informação. Isso porque cada artista tem um olhar e, na língua da arte, o diferencial é manter o regional. Na palestra, ele apresentou justamente esse movimento de como manter a regionalidade - assim como fez o grupo Mangue Beat – com destaque no cenário da arte contemporânea brasileira, apesar de toda a globalização.
Sobre “Exílios”
Sobre o trabalho que Trope apresenta em Mato Grosso ele, que também foi curador da última Bienal de Arte de São Paulo, disse que acha extremamente interessante sua abordagem. Isso porque fala de aspectos do Brasil mostrando ‘fraturas’ sociais sem, no entanto, fazer isso de maneira óbvia ou engajada. “O dispositivo da câmera-escura, que, ao mesmo tempo em que mostra e não mostra, é um modo novo de contar recontando histórias de vida”, avalia.
A exposição que está no momento em Mato Grosso apresenta o trabalho que a artista fez em 2009 em Londrina/PR. O mesmo formato que ela começou a fazer em Mato Grosso desde o dia 22 de agosto ao gravar pessoas da terra contando e apresentando seu passado para religar essa ponte do Brasil de hoje com o Brasil de antigamente e que está guardado na memória de brasileiros comuns e não nos livros de história.
Já a artista explica que “Exílios” são pesquisas hibridizadas, fotografias que são contaminadas pelo Cinema - cadeira de formação de Trope – e vice versa. “Percebi que a arte, como forma de circunstanciar o sujeito, possibilita situações de encontro. Pensar em diversidade e o discurso contaminado pela participação do outro”, ressalta. No caso de “Exílios”, há depoimentos de descendentes de poloneses e de como foram forçados a sair da terra natal por conta da guerra. Sendo assim, ainda que sejam pessoas de mais idade dando seu depoimento, voltam à infância ao falarem desse tempo de suas vidas. A infância, aliás, é tema recorrente dos trabalhos da artista.
“Relicários”, que também é parte desse trabalho, segundo ela, surge da intenção de singularidade que compõe o que podemos chamar de Brasil. A meta é mostrar Brasis que têm menos visibilidade como é o caso da Amazônia e outras localidades. “Queremos, na câmera-escura, lançar luzes sobre essa sociedade”, adianta.
Parceiros
Além da Funarte, SEC e Sesi, também são parceiros na realização da exposição a Dracma Móveis, Plena Visão, ECCO-UFMT e as prefeituras de Santo Antonio de Leverger, Chapada dos Guimarães e José Medeiros Imagem.
Adriana Nascimento
Assessoria SEC
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