Secretário João Carlos Laino durante abertura do Circuito Cultural Lusófono no Centro de Eventos do Pantanal juntamente com a Orquestra Jovem do Estado de Mato Grosso. Foto: Ednilson Aguiar/Secom-MT
Por João Carlos Laino*
O Circuito Cultural Lusófono,
evento que ocorreu em Cuiabá entre os dias 18 e 20 de setembro com o
financiamento dos Ministérios da Cultura do Brasil e de Cabo Verde e que, em
Mato Grosso, teve o apoio do Governo do Estado, juntamente com o Sebrae, além
de ser um louvável projeto da ong portuguesa Etnia e do Instituto Cultural
Lusófono (ICL) serviu para nos remeter às nossas origens históricas permeadas
por sonhos, batalhas, sofrimentos e conquistas e que, agora, apontam para um
futuro de paz e prosperidade.
Fernando Pessoa, o maior poeta
português de todos os tempos expressa com muita propriedade essa saga
portuguesa num pequeno poema chamado “Mar Português” que diz assim:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu à pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem querer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”
E é nesse céu que cobre a nós e
ao conjunto de identidades culturais existentes em países, regiões, estados ou
cidades falantes da língua portuguesa, como Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné
Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e por
diversas pessoas e comunidades em todo o mundo.
O chamado império português, à
época foi motivado por interesses econômicos mercantis, políticos e
estratégicos, fortalecidos com ações culturais e religiosas do colonizador
português perante seus colonizados.
O processo de colonização
incentivou a troca de cultura, conhecimentos, e o surgimento de uma
miscigenação.
O português é hoje a sexta língua
mais falada no mundo depois do chinês (mandarim), hindi, espanhol, inglês e
bengali. O número de falantes ultrapassa hoje largamente os 200 milhões.
Nas Américas o Brasil é o único
país falante da língua portuguesa. É o maior país lusófono em número
populacional e territorial, presente no grupo de nações emergentes
economicamente. E como nos orgulhamos disso!
Este Circuito, que ora passou por
Mato Grosso, veio no momento certo, pois nos municia com os ingredientes
necessários para a confraternização universal dos povos por intermédio do
idioma. Este programa permanente de intercâmbio que envolve os oito países da
língua portuguesa no mundo e as suas diásporas é concebido em torno de três
eixos distintos, mas complementares: Microações regulares de intercâmbio e
cooperação (que foi a etapa implantada agora no Brasil do qual Mato Grosso fez
parte da rota); Festival ‘Na ponta da língua: Artes dos povos que falam
português’ e Casas de Lusofonia.
É esse o papel que nos cabe como
gestor cultural. É receber de braços abertos as iniciativas como esta que une
os apaixonados por uma língua, por seu sotaque, dialetos, que confundem,
misturam-se ao cotidiano e não fogem da raiz, não se desligam da origem.
Quem nunca se aventurou por mares
distantes, por entre as linhas de poetas lusitanos, talvez não compreenda o
quanto é preciso navegar, lançar-se ao mar em busca de riquezas e aventuras,
despedir-se de amores em portos incertos descrente do próprio retorno.
A saudade, o mar salgado por
lágrimas, o amor, a dor... Tudo cantado em verso e prosa, retrato fiel de um
povo que ousou cruzar fronteiras.
E, para finalizar e expressar com
clareza o que entendo por lusofonia, lanço mão de um desejo que tenho, que é o
de ver um poema angolano recitado por uma menina do Timor, que fora
alfabetizada na escola brasileira, por uma professora portuguesa, com livros
editados em Cabo Verde, aplaudida por toda São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau e
Moçambique.
Que o caminho seja curto e nossa
língua nossa pátria!
João Carlos Laino é secretário de
Estado de Cultura de Mato Grosso
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