sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Artigo - Circuito Cultural Lusófono: o rumo da religação da arte



Secretário João Carlos Laino durante abertura do Circuito Cultural Lusófono no Centro de Eventos do Pantanal juntamente com a Orquestra Jovem do Estado de Mato Grosso. Foto: Ednilson Aguiar/Secom-MT


Por João Carlos Laino*

O Circuito Cultural Lusófono, evento que ocorreu em Cuiabá entre os dias 18 e 20 de setembro com o financiamento dos Ministérios da Cultura do Brasil e de Cabo Verde e que, em Mato Grosso, teve o apoio do Governo do Estado, juntamente com o Sebrae, além de ser um louvável projeto da ong portuguesa Etnia e do Instituto Cultural Lusófono (ICL) serviu para nos remeter às nossas origens históricas permeadas por sonhos, batalhas, sofrimentos e conquistas e que, agora, apontam para um futuro de paz e prosperidade.

Fernando Pessoa, o maior poeta português de todos os tempos expressa com muita propriedade essa saga portuguesa num pequeno poema chamado “Mar Português” que diz assim:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu à pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem querer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”

E é nesse céu que cobre a nós e ao conjunto de identidades culturais existentes em países, regiões, estados ou cidades falantes da língua portuguesa, como Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e por diversas pessoas e comunidades em todo o mundo.
O chamado império português, à época foi motivado por interesses econômicos mercantis, políticos e estratégicos, fortalecidos com ações culturais e religiosas do colonizador português perante seus colonizados.
O processo de colonização incentivou a troca de cultura, conhecimentos, e o surgimento de uma miscigenação.
O português é hoje a sexta língua mais falada no mundo depois do chinês (mandarim), hindi, espanhol, inglês e bengali. O número de falantes ultrapassa hoje largamente os 200 milhões.
Nas Américas o Brasil é o único país falante da língua portuguesa. É o maior país lusófono em número populacional e territorial, presente no grupo de nações emergentes economicamente. E como nos orgulhamos disso!
Este Circuito, que ora passou por Mato Grosso, veio no momento certo, pois nos municia com os ingredientes necessários para a confraternização universal dos povos por intermédio do idioma. Este programa permanente de intercâmbio que envolve os oito países da língua portuguesa no mundo e as suas diásporas é concebido em torno de três eixos distintos, mas complementares: Microações regulares de intercâmbio e cooperação (que foi a etapa implantada agora no Brasil do qual Mato Grosso fez parte da rota); Festival ‘Na ponta da língua: Artes dos povos que falam português’ e Casas de Lusofonia.
É esse o papel que nos cabe como gestor cultural. É receber de braços abertos as iniciativas como esta que une os apaixonados por uma língua, por seu sotaque, dialetos, que confundem, misturam-se ao cotidiano e não fogem da raiz, não se desligam da origem.
Quem nunca se aventurou por mares distantes, por entre as linhas de poetas lusitanos, talvez não compreenda o quanto é preciso navegar, lançar-se ao mar em busca de riquezas e aventuras, despedir-se de amores em portos incertos descrente do próprio retorno.
A saudade, o mar salgado por lágrimas, o amor, a dor... Tudo cantado em verso e prosa, retrato fiel de um povo que ousou cruzar fronteiras.
E, para finalizar e expressar com clareza o que entendo por lusofonia, lanço mão de um desejo que tenho, que é o de ver um poema angolano recitado por uma menina do Timor, que fora alfabetizada na escola brasileira, por uma professora portuguesa, com livros editados em Cabo Verde, aplaudida por toda São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau e Moçambique.
Que o caminho seja curto e nossa língua nossa pátria!

João Carlos Laino é secretário de Estado de Cultura de Mato Grosso  

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