Cuiabá está, desde o dia 22, sendo palco do projeto ‘Relicários - Revendo Brasis’, realizado pela artista carioca, Paula Trope. Ele é experimental e reúne os dispositivos câmera escura, fotografia e vídeo e tem como mote lançar um olhar de natureza poética sobre a invenção do Brasil. Como parceiro ela conta com a Secretaria de Estado de Cultura (SEC), através do Pavilhão das Artes.
Na última quinta (23) ela gravou com Dona Domingas, presidente da Associação Flor Ribeirinha, no bairro São Gonçalo Beira Rio. A coordenadora do Pavilhão das Artes, Magna Domingos, informa que a parceria vem ao encontro da necessidade de inserir Mato Grosso no mapa das artes do Brasil e propiciar o intercâmbio. "Trazer artistas como Paula Trope é uma ação importante no sentido que coloca o Estado na contemporaneidade do mundo afora", destaca Domingas.
Segundo Paula Trope, enquanto país aglutinador de diferentes culturas e etnias e nação herdeira das histórias e dos imaginários dos mais diversos povos que a originaram, o projeto serve para que haja apresentação dessas vozes por elas mesmas, em sua diversidade e pluralidade. Também objetiva propiciar ao público uma experiência lúdica com o fenômeno ótico elementar de formação da imagem, numa época que valoriza grandes avanços tecnológicos no campo da visualidade.
Sendo assim, Relicários propôs-se a vir a Cuiabá para contatar diferentes situações territoriais e grupos humanos. O projeto, afirma Trope, vai promover a construção de uma câmera escura gigante, aqui chamada de Câmera-luz, que percorrerá os principais pontos históricos da cidade e outros locais significativos, e convidará a população, através de chamadas públicas, a rever essas paisagens, como um aparato deflagrador de sentidos. “A Câmera-luz possui um pequeno orifício que projetará no ambiente e sobre os observadores a imagem da paisagem exterior, invertida e de cabeça para baixo.
Essa situação propiciará aos participantes uma vivência singular com a imagem, clarificando e desmistificando seu processo de formação. As pessoas serão convidadas a gravar ali seus depoimentos”, revela a artista. Nesse projeto, a população será estimulada a rever as memórias do lugar onde vive, partilhar preocupações, sonhos e perspectivas. Seus depoimentos serão dados dentro da câmera-escura onde os depoentes também apresentarão fotografias de seus ancestrais. “Será feita a tentativa de localizar, entre os habitantes, descendentes dos grupos humanos fundadores da cidade, caso isso ainda seja possível”, esclarece.
Por último, Relicários se propõe repensar a noção de brasilidade, assumindo a perspectiva apontada por Júlia Kristeva em Etrangers à nous-mêmes: o estrangeiro está em nós.
Experiência e palestra
Além da intervenção provocada pela circulação da câmera-escura nos espaços públicos da cidade, o projeto pretende ainda a realização da oficina Experiência de Imagem, sobre o uso da câmera escura e da fotografia com câmera de orifício na arte. Haverá também uma palestra de Trope sobre sua trajetória artística, abordando alguns projetos realizados relacionados aos temas abordados na oficina.
Dentro do projeto, no dia 31 de agosto, haverá palestra com o crítico de arte, Moacir dos Anjos, no Salão Nobre do Palácio da Instrução. Logo depois, na mesma data, será aberta a exposição ‘Exílios’, que fica no Pavilhão das Artes até dia 24 de setembro com o resultado do projeto Relicários - Revendo Brasis.
A artista Paula Trope é artista visual, formada em cinema pela Universidade Federal Fluminense, Mestre em Técnicas e Poéticas em Imagem e Som pela Universidade de São Paulo. Na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, frequentou os cursos de Eduardo Brandão, Fernando Cochiaralle, entre outros. Expôs no Brasil e no exterior desde o final dos anos 80. É professora de Fotografia e Artes, tendo feito parte do corpo docente da EAV de 1986 a 1996, onde coodenou o Núcleo de Imagem Técnica. Premiada no Panorama da Arte Brasileira 1995, no 5º Programa de Bolsas RIOARTE, 2000 e no Prêmio CNI-SESI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas, 2004. Em seu trabalho, assume uma postura crítica em relação à própria câmera e à prática artística, considerando as características técnicas, formais e institucionais envolvidas.
Adriana Nascimento
Assessoria SEC
8139-1924
Assessoria SEC
8139-1924
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